quinta-feira, 8 de outubro de 2009

UMA OLHADELA PARA TRÁS...

Aquela menininha,
franzina, inocente da vida
não sabia que uma grande dor
aos poucos se avizinha.
...
"- Por que ele está na sala, deitado de sapato?"
...

Mas o tempo é um grande curador, das grandes e pequenas feridas,
e as cicatrizes que ficam quase que somem... Mas, ficam também
lembranças e geralmente, são as boas lembranças que ficam.


Uma mesa, na espaçosa cozinha, onde crianças, adolescentes, jovens e adultos reuniam-se para a refeição. Uma grande travessa de suculenta macarronada (massa feita em casa), preparada pelo papai e pela mamãe.
Ou, num outro dia, à hora da janta, aquela grande polenta feita em panela de ferro e no fogão à lenha...virada numa tábua redonda. Parecia uma meia lua cheia... A mamãe cortava com linha grossa as fatias arredondadas e ia colocando nos pratos, o papai, cortava um queijo mineiro meia-cura, e também juntava um pedaço a cada prato...
Na noite de natal, no corredor perto dos quartos, se via uma fileira de muitos sapatos. Dia seguinte, bem cedo, que alegria! Em cada um deles havia uma grande moeda (dinheiro), uma maçã argentina embrulhada no seu papel de seda azul, tão perfumada, e o presente. Era uma festa linda! Na sala de visitas um enorme presépio com casinhas, montanhas, rio, lago, animais, pastores e reis, e aquela gruta de pedras de papel, abrigando a família sagrada! Era tão lindo que a vizinhança vinha todo ano ver!
Ainda hoje, para aquela menininha o cheiro da maçã e do cipreste a transportam para a festa enternecedora do Natal!


"Lembrança, quanta lembrança,
dos tempos que já se vão,
minha vida de criança,
minhas bolhas de sabão!
Infância, que sorte cega,
que ventania cruel.
Que enxurrada que carrega
meu barquinho de papel.
Tudo passa, tudo muda
neste mundo de ilusão.
Só tu, coração, não mudas,
porque és puro e porque és bom!"
(Do livro: Saudade)

Um comentário:

  1. Muito linda a recriação de suas memórias, da mais doloria à mais doce. Amei! Me recordo daquela bela cena em "Horas de Verão", em que a matriarca, à meia-luz, diz que muitos segredos e histórias se vão com ela. Mas alguns devem ser partilhados, não?

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